As mudanças climáticas constituem um dos mais graves desafios a serem enfrentados neste século, em função das consequências que o aquecimento global traz: a elevação do nível do mar devido ao derretimento das calotas polares, a ocorrência de eventos climáticos extremos com maior frequência, o desaparecimento de ilhas e cidades litorâneas. Tais mudanças produzirão severos impactos no modo de vida de populações em diversas partes do mundo, além de afetar fauna e flora, causando a extinção de diversas espécies. O registro de vários recordes de temperatura, bem como a maior incidência de eventos climáticos em vários países atestam que há efeitos das alterações nas condições climáticas que já se fazem sentir na atualidade. A cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016 apresentou as mudanças climáticas e suas consequências a um público superior a 3 bilhões de pessoas através de um vídeo exibido durante o evento, destacando a necessidade de mudança na forma como os recursos naturais são utilizados e como o meio ambiente é tratado.
A Fundação Konrad Adenauer dedica esta edição da série Cadernos Adenauer a este tema, com o objetivo de discutir sobre diversos aspectos e estratégias de enfrentamento das mudanças climáticas. Os nove capítulos que compõem esta publicação trazem análises sobre as ações de enfrentamento das mudanças climáticas a partir das cidades além de diversos outros tópicos de fundamental importância para a compreensão deste tema, como mudanças climática e setor privado, estratégias de enfrentamento das mudanças climáticas na América Latina e os desdobramentos da COP-21.
Emilio Lèbre La Rovere traz aspectos da política brasileira de enfrentamento das mudanças climáticas e realiza uma reflexão sobre o resultado e as perspectivas pós cop-21. É realizada uma análise da política brasileira de mitigação das mudanças climáticas desde a Rio-92, e são apresentadas perspectivas de desenvolvimento brasileiro em um contexto de baixa emissão de carbono. Na análise sobre os resultados da Conferência de Paris destaca-se o novo paradigma consolidado durante a COP-21. A implantação do acordo de Paris também faz parte das análises deste capítulo, bem como os caminhos a serem trilhados pelo Brasil no Pós-COP21.
VICENTE, Marina (Org.) Cadernos Adenauer xvii, nº 2. Mudanças climáticas: o desafio do século. Rio de Janeiro: Fundação Konrad Adenauer, agosto 2016, p 7-8.
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O CentroClima em parceria com a COPPE promoveu um curso de capacitação para os profissionais da Secretaria do Estado do Ambiente (SEA) e outras instituições convidadas pelo SEA sobre o Inventário de Emissões de Gases Efeito Estufa entre os dias 5 a 9 de dezembro de 2016. A ideia do curso foi capacitar as pessoas que trabalham com o assunto mudanças do clima na Secretaria do Estado do Ambiente e no Instituto Estadual do Ambiente (INEA) a começarem a desenvolver o Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa. Essas emissões são oriundas do setor energético, de resíduos, agricultura, floresta e mudança de uso do solo e processos industriais.
O curso foi oferecido para 40 pessoas que completam a totalidade dos temas ou escolheram seus temas de interesse. Esse curso faz parte do âmbito de um projeto maior desenvolvido com a Secretaria de Estado do Ambiente para a elaboração do Inventário de Emissões do Estado do Rio de Janeiro do ano de 2015 e revisão da série histórica, como forma, não só de capacitar as pessoas para desenvolverem posteriormente o inventário, como também desses profissionais poderem, nessa fase de estudo, colaborar no oferecimento de dados e informações que são necessárias para a elaboração do Inventário do ano de 2015.
As informações presentes nessa notícia foram cedidas em entrevista com a Profª Carolina Dubeux.
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Por ocasião das últimas eleições para prefeito em 2016, o CentroClima/COPPE/UFRJ enviou propostas para os candidatos a prefeito do Rio de janeiro sobre mitigação das Mudança Climáticas e adaptação/resiliência da cidade às Mudanças Climáticas para que se possa criar estratégias que atinjam as metas de redução de emissões de gases do efeito estufa já anteriormente fixadas, assim como preparar a cidade para o enfrentaros impactos das mudanças climáticas.
Segue a proposta enviada aos candidatos:
A redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE) da cidade do Rio de Janeiro foi estabelecida na Lei Municipal de Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável, publicada em janeiro de 2011. As metas foram fixadas tendo como referência as emissões totais verificadas em 2005, ano de publicação da atualização pelo CentroClima/COPPE/UFRJ do Inventário de Emissões de Gases do Efeito Estufa do Município do Rio de Janeiro. Os objetivos de redução foram definidos em 8% das emissões em 2012, 16% em 2016 e 20% em 2020 sobre as emissões de 2005.
As metas definidas para 2012 e 2016 foram atingidas apenas parcialmente, devido a atrasos na entrada em operação de investimentos como os BRTs, a expansão do metrô e os aterros de Novo Gramacho e Seropédica (Centro de Tratamento de Resíduos).
Para viabilizar o atingimento dessas metas, propõe-se:
A cidade do Rio de Janeiro é particularmente vulnerável aos efeitos mais imediatos das mudanças climáticas, em função do relevo diversificado, da confrontação direta com o oceano e da presença da Baía da Guanabara.O aumento da vulnerabilidade da cidade às mudanças climáticas já vem ocorrendo devido a chuvas mais intensas e à elevação do nível do mar, potencializando os deslizamentos de encostas,alagamentos e inundações, agravando problemas de infraestrutura, saneamento ambiental e saúde pública, e de riscos à integridade das unidades de conservação e prejuízos à biodiversidade.
Diante do imperativo de preparar a cidade para o enfrentamento dos impactos das mudanças climáticas e melhorar a qualidade de vida da população, propõe-se:
Elaboração do Plano de Adaptação da Cidade do Rio de Janeiro às Mudanças Climáticas, com base no Estudo Técnico de Apoio ao Desenvolvimento do Plano de Adaptação que vem sendo realizado pelo CentroClima/COPPE/UFRJ para a SMAC, atualizando a análise de vulnerabilidades e impactos das mudanças climáticas na cidade, e identificando possíveis ações de adaptação, envolvendo um conjunto de instituições com atuação relevante para o tema, atualmente em fase final, a ser concluído em dezembro de 2016.
Muitas análises já foram feitas sobre o resultado da 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (a COP-21 da Convenção do Clima, UNFCCC na sigla em inglês), realizada em Paris, no mês de dezembro de 2015. Os analistas se dividem na ênfase dos aspectos positivos ou negativos da COP-21. Dentre outros, podemos citar entre os primeiros Viana (2015), Soto (2016) e Azevedo (2016), e entre os últimos Vieira (2015), Boff (2015) e Vianna (2016). Há também os que ressaltam ambos os lados em seu balanço, como Monbiot (2015), Pachauri (2016), Goldemberg (2016), Sirkis (2016) e Veiga (2016).
Há consenso, porém, sobre o novo paradigma consolidado na COP-21, que havia sido lançado na COP-15, em Copenhagen: o estabelecimento de objetivos voluntários pelas partes (países membros da Convenção), um enfoque “bottom-up” em contraste com o modelo do Tratado de Quioto, que estabelecia metas obrigatórias de limitação das emissões de gases de efeito estufa (GEE) pelos países industrializados (integrantes do Anexo I da Convenção do Clima). Em Paris, mais de 190, dentre as 196 partes da Convenção (195 países e a União Europeia) apresentaram metas para limitar suas emissões de GEE em 2025 e/ou 2030, a exemplo do que tinha ocorrido para os países industrializados e os principais países emergentes na COP-15 em 2009, com objetivos fixados para 2020. Este resultado é certamente mais promissor que o regime de metas obrigatórias estabelecidas em Quioto: os Estados Unidos não aderiram a elas, China, Índia e Brasil não tinham um limite de emissões de GEE estabelecido, a Austrália e o Canadá abandonaram o Tratado após terem aderido inicialmente. Simplesmente não foi possível atingir consenso na Convenção do Clima sobre nenhuma sanção ao não cumprimento das obrigações assumidas no Tratado de Quioto nem sobre o estabelecimento de novas metas obrigatórias para as emissões de GEE, aplicáveis a todos os países.
A principal limitação dos compromissos voluntários assumidos em Paris é que eles ainda estão muito longe de serem suficientes para atingir o objetivo principal da Convenção do Clima: estabilizar a concentração de GEE na atmosfera em um nível seguro, que não comprometa a segurança alimentar e permita a adaptação natural dos ecossistemas, dentro de um modelo de desenvolvimento sustentável. É ainda imprecisa a extensão dos impactos das mudanças climáticas em âmbito regional, o que torna difícil definir qual seria exatamente o índice seguro de concentração. Assim, a Convenção do Clima começou na Rio-92 como uma apólice de seguro tomada como precaução diante de uma incerteza perigosa demais. Os Estados Unidos eram muito relutantes a assinar a Convenção, alegando a falta de um conhecimento científico mais aprofundado, mas na última hora acabaram assinando. Mas de lá para cá, os estudos científicos mostraram que os impactos das mudanças climáticas crescem fortemente a partir de um aumento de temperatura de 2ºC em relação à média registrada no planeta antes da Revolução Industrial, quando começou o aumento significativo das emissões de GEE de origem antropogênica pela queima de combustíveis fósseis. Com base neles, foi aprovado na COP-15, em Copenhagen, um limite aceitável de no máximo 2ºC.
Apesar da maioria dos especialistas considerar muito difícil ou praticamente impossível conter o aquecimento global a 2ºC, o Acordo de Paris mencionou também a necessidade de esforços para limitar este aumento da temperatura a 1,5ºC. Este gesto foi criticado pelos que julgam este objetivo irrealista e saudado pelos que consideram imprescindível o dever ético de apoiar a reivindicação dos pequenos países insulares, ameaçados de dever transferir suas populações para outras terras a partir de uma temperatura de 1,5ºC acima da média pré-industrial. Em contraste, para colocar as emissões mundiais de GEE numa trajetória compatível com a estabilização da temperatura do planeta em um nível 2ºC acima do “normal”, o mundo teria de emitir no máximo 40 Gt CO2e em 2030. Porém, se alcançados, os objetivos anunciados até agora, no processo que culminou com a COP-21, levariam a um nível de emissões mundiais da ordem de 55 Gt CO2e em 2030. Esta trajetória tende a permitir que o aquecimento global atinja 3ºC, o dobro do objetivo colocado como desejável no Acordo de Paris. Assim, o Acordo de Paris insta todos os países a revisarem suas NDCs periodicamente, a cada 5 anos, no sentido de uma maior ambição, ou seja, propondo voluntariamente cortes cada vez mais ambiciosos de suas emissões de GEE.
Um outro ponto muito importante, e que pela primeira vez aparece nas decisões da Convenção, é o caminho para se atingir seu objetivo de longo prazo: chegar a um “pico” de emissões globais de GEE o mais cedo possível, e a partir daí iniciar sua queda até se obter o equilíbrio entre as emissões antropogênicas e os sumidouros de GEE. Isto garantiria então a estabilização da concentração de GEE na atmosfera. Quanto mais cedo isto ocorrer, menor será a temperatura de estabilização. O G-7 já havia estabelecido um objetivo de chegar a este equilíbrio até o fim do século XXI. O Brasil também se comprometeu com este objetivo, por ocasião da visita de Angela Merkel ao país em 2015. O Acordo de Paris foi mais além, mencionando a 2ª metade do século XXI como o horizonte desejável, e exigindo que até 2020 todos os países apresentem suas estratégias de transição para uma sociedade de baixo carbono nesse horizonte.
De todo modo, o principal resultado de Paris é o sinal de que a transição dos combustíveis fósseis para uma economia mundial de baixo carbono desta vez realmente começou e vai acontecer, mesmo se numa velocidade ainda duvidosa. A credibilidade deste objetivo foi reforçada pelo resultado das emissões globais em 2014, quando pela primeira vez elas caíram, mesmo com um aumento do PIB mundial. Mesmo que ainda seja cedo para afirmar que se trata de uma tendência, foi ilustrada a viabilidade do prosseguimento do crescimento econômico mesmo com a redução das emissões de GEE.
Na verdade, o Acordo de Paris, mais do que uma causa, é uma consequência da evolução recente do mercado energético mundial: o rápido aumento da produção de óleo e gás de folhelho (o popular xisto betuminoso) nos Estados Unidos derrubando o preço do petróleo, a redução de custos e crescimento dos investimentos no uso de energias renováveis (eólica, solar e biomassa). Esta tendência, aliada à percepção crescente dos inconvenientes ambientais dos combustíveis fósseis (como no exemplo da poluição atmosférica urbana na China) vem tornando mais atrativos os investimentos em energias renováveis e colocando na defensiva a indústria de combustíveis fósseis. Assim, muda a percepção de que a redução de emissões de GEE da queima dos combustíveis fósseis teria um custo elevado para os países, com perdas de competitividade e crescimento econômico que se traduziriam em piora da qualidade de vida de sua população. Por outro lado, passa a ganhar força a noção dos benefícios econômicos, sociais e ambientais para os líderes na transição rumo a uma sociedade de baixo carbono.
ROVERE, E. L.L, O Brasil e a COP-21.In: VICENTE, M. (Org.). Cadernos Adenauer xvii, nº 2. Mudanças climáticas: o desafio do século. Rio de Janeiro: Fundação Konrad Adenauer, agosto 2016, p 7-8.
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