Reunião virtual do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), realizado em 12 de dezembro, discutiu o balanço da COP 29 como o primeiro de uma série de encontros organizados pela Câmara Temática (CT) de Adaptação e Infraestrutura para refletir sobre as expectativas rumo à Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP) 30, que será realizada em Belém, no Pará, de 10 a 21 de novembro de 2025.
Com apresentação de Jussara Carvalho, da CT Adaptação e Infraestrutura, o encontro contou com uma introdução de Sérgio Xavier, coordenador do FBMC. O Prof. Emílio La Rovere, coordenador da CT Economia de Carbono, que participou da COP 29 em Baku, foi convidado para fazer um balanço de seus resultados. Em seguida, Linda Murasawa, coordenadora da CT Finanças Sustentáveis, e Suely Araújo, da CT Adaptação e Infraestrutura, forneceram seus comentários. A mediação ficou a cargo de Ricardo Lopes.
Em suas palavras iniciais, o coordenador Sérgio Xavier explicou o funcionamento do FBMC e relatou as atividades de 2024 e as expectativas para 2025. Logo após, Emílio La Rovere tomou a palavra para contextualizar as negociações políticas que pautam as COPs da Convenção do Clima, já que o Brasil será o primeiro a sediar o encontro após três Conferências realizadas em países com economia fortemente dependente da produção de petróleo e gás natural.
Emílio explicou que desde a guerra na Ucrânia há uma dificuldade maior nas negociações climáticas, exacerbada pela guerra no Oriente Médio. Atualmente, o cenário se complica ainda mais com a guerra na Síria e o segundo mandato do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Ainda assim, foi aprovado na COP 29 triplicar até 2035 o volume anual de financiamento para os países em desenvolvimento enfrentarem as mudanças climáticas: dos 100 bilhões de dólares aprovados na COP 15 em 2009 (montante só atingido em 2022, quando alcançou 116 bilhões), o compromisso agora é de 300 bilhões de dólares por ano.
Os países do Anexo I da Convenção (países desenvolvidos) deverão liderar as contribuições. O desapontamento dos países em desenvolvimento ficou evidente, pois seu pleito era de 1,3 trilhões de dólares anuais, sendo que o comunicado final do G-20 reconheceu a necessidade de investimentos da ordem do trilhão de dólares por ano.
Os organismos multilaterais de financiamento (incluindo os bancos de desenvolvimento como o Banco Mundial, dentre outros, que anunciou 120 bilhões de dólares por ano em financiamentos) também deverão multiplicar seus investimentos nesse campo. E se determinou que os fundos da Convenção, o Green Climate Fund, o Fundo de Adaptação e o Fundo de Perdas e Danos terão mais recursos.
Não houve acordo sobre o montante de fundos para operações sem retorno (grants) nem para Adaptação ou Perdas e Danos. Porém, houve um reconhecimento da conveniência de se chegar a uma meta de financiamento de 1,3 trilhões de dólares por ano, e foi estabelecido um mapa do caminho de Baku a Belém, para se continuar negociando a aprovação dessa meta. Esse objetivo será revisado em 2030 no âmbito da Convenção.
Emílio explicou que não é o recurso público que vai fazer a transição para a economia de baixo carbono, e sim “os trilhões de dólares que ficam esterilizados no mercado financeiro, em investimentos imobiliários e em investimentos no mercado financeiro. É dessa massa de valores que precisamos trazer recursos para a transição e liberar o escasso dinheiro público para adaptação e perdas e danos”.
Neste sentido, a tarefa se coloca para a liderança brasileira atuar antes e durante a COP 30 no esforço de tentar reformar as instituições financeiras internacionais e o fluxo de recursos necessários do Norte Global para o Sul Global.
Logo após, Linda Murasawa, coordenadora da CT Finanças Sustentáveis, falou sobre o risco físico e de transição a partir das negociações e explicou como isso afeta as modelagens de crédito, que precisam ser inovadoras para funcionar em novos contextos. Por isso, a importância dos laboratórios de inovação financeira, embora as prioridades de financiamento ainda não sejam climáticas. Para Linda, o financiamento da descarbonização precisa ser mais amplo e a esperança é que em Belém se chegue a um consenso nessa direção.
Suely Matsuguma, da CT Infraestrutura Verde e Adaptação, lamentou que a velocidade necessária para lidar com a crise climática esteja muito aquém das Convenções. Para ela, o setor financeiro precisa aumentar em muito o número de zeros para adaptação, já que esta acaba ficando aquém da mitigação.
O encontro então se abriu para comentários e perguntas aos palestrantes e dos assistentes. Emílio comentou o relatório da Bloomberg de janeiro de 2024, que situou os investimentos em transição energética na ordem de um trilhão de dólares anuais pela primeira vez. “Embora, isso considere também investimentos indiretos, ou seja, carro elétrico, mas também bateria, linha de transmissão, etc.”
Ele concordou que as necessidades de adaptação vão se tornando cada vez maiores, pois já atingimos praticamente uma temperatura global 1,5ºC acima da média pré-industrial, e que a partir de 2ºC os impactos, perdas e danos causados pelas mudanças climáticas se aceleram fortemente, conforme alertado pelo IPCC.
Linda reforçou a importância de se promover a adaptação, principalmente no setor corporativo, e de forma que não acarrete aumento de emissões de GEE. Por isso, é necessário repensar novos modelos no sentido de uma visão estratégica ambiental, juntamente com uma visão estratégica econômica, para que o país se posicione de forma atrativa colocando-se como exemplo de que é possível fazer a convivência do ambiental com o financeiro.
O Centro Clima irá sintetizar os próximos encontros do FBMC para refletir os caminhos possíveis rumo à COP 30.
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Confira AQUI as outras participções do Prof. Emilio na COP 29.